Waléria Américo
FALHA, 2014, performance para instrumento de sopro, partitura de tiros, prato de bateria, duração variável.
A artista Waléria Américo se serve de gestos e processos de escuta do outro para abrir frestas e espaços de negociação, nos quais a imagem passa a ser um ato, uma reverberação. Notemos que em FALHA há uma descontextualização e desfuncionalização dos objetos, que provoca o constante deslocamento da matéria e, como consequência, gera diversas composições em partituras. O trabalho de Américo, por ser concebido como um gesto dilatado, não possui lugares fixos de entrada e saída, começo e fim. O ato, o momento em que a pesquisa e todo o processo são apresentados ao público com o título de FALHA, não anula ou se opõe aos processos que ainda estão em reverberação.
Neste espaço de negociação entre a artista e síntese na elaboração da imagem, entre a partitura e os músicos, a interpretação e o público, há não apenas falhas, mas também reinvenções. Quando o prato de bateria é perfurado com uma arma de fogo calibre 38, ele gera um ruído, mas também um vazio que, posteriormente, é grafado no pentagrama musical através dos orifícios do prato, resultando em uma partitura. As notas executadas em instrumentos de sopro são mantidas até o limite do esgotamento do ar, fato que torna esta obra desobediente. Ela não permite ser tocada no tempo em que foi concebida. O sopro é, portanto, na obra de Waléria Américo, a reinvenção do ruído, o deslocamento do tiro em nota.
Kamilla Nunes
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